Páscoa
07/03/2019 - Clodomiro José Bannwart Júnior

Na ressurreição de Lázaro, Jesus antecipou o que Ele próprio, mais tarde, realizaria como ato perfeito: a consumação de que Deus – assim como nós – estima e prioriza a vida.

A ação de Jesus, neste episódio, revela três aspectos essenciais: que Ele é o Deus da vida; que a vida se sobrepõe a morte; e que a vida não é senão o outro lado da morte, o verso da moeda. Olhamos sempre o binômio vida-morte. Jesus nos ensinou a olhar esse binômio na perspectiva morte-vida. E isso faz toda a diferença!

Há uma implicação dialética nesta relação. É da morte, e por meio da morte, que Jesus consegue expressar a plenitude da vida. Parece paradoxal, não? A própria natureza, na qual estamos mergulhados, também é dialética e pedagógica a esse respeito.

Para se colher uvas doces é preciso fixar o parreiral em terra seca, rochosa, de preferência em terreno íngreme. Nunca em terra boa, fofa e úmida. Parece contraditório? Parece! Novamente a implicação da dialética: quanto maior a dificuldade de o pé de uva sobreviver, melhor será para seu crescimento e desenvolvimento. Não havendo umidade, a planta irá alargar suas raízes em busca d’água e, assim, quanto mais se embrenhar no solo, mais forte será seu tronco e maior a sua capacidade de produzir mais e mais cachos de uvas. Além do que, quanto mais profundas as raízes, melhor será a água absorvida e mais perfeito e doce serão os seus frutos.

Na vida parece que é assim também. Sofrimentos, dificuldades e privações, em muitos aspectos contribuem para o nosso crescimento e amadurecimento pessoal.

Os gregos diziam que não há nada na natureza destituído de finalidade. Tudo concorre para um determinado fim. E no cumprimento do fim a que cada coisa se destina é alcançado o Káiros, o tempo oportuno, o tempo pleno. A plenitude do pé de uva ocorre no momento oportuno de colher, depois de muitas dificuldades, a uva boa, a uva doce, a uva que se transformará na bebida perfeita dos deuses e preferida dos homens: o vinho. E não se faz o bom vinho sem antes esmagar a uva.

Jesus foi o cacho perfeito da nossa humanidade, a boa uva que espremida (morto) produziu o bom vinho, o vinho da longevidade, o vinho da existência festiva na sua mais alta plenitude: a vida eterna. Ele próprio se ofereceu como a bebida que sacia a nossa sede existencial.

Jesus nos mostrou que, dialeticamente, da morte se colhe a vida. O Káiros de Jesus foi a morte, porém, uma morte que se revestiu de plenitude e também de graça. A pedagogia da Páscoa nos mostra que a vida é perpassada pela morte e na morte está a vida. E vida em abundância.

 

Clodomiro José Bannwart Júnior

Artigo publicado no Jornal Ecos de Sant'Ana