O lugar das Cinzas
27/06/2022
O filósofo Bertrand Russell afirma que a filosofia é construída sobre um certo número de dualismos. Verdade e falsidade, bem e mal, harmonia e discórdia, aparência e realidade, liberdade e necessidade, mente e matéria, caos e ordem, limite e ilimitado etc. Os grandes debates filosóficos se firmam na veemência daqueles que defendem a um dos lados do dualismo firmado. Daí depreende a explosão da atividade intelectual. Na dialética dos contrários está a tensão da alma grega, capturada nas tragédias, na purgação das emoções e das paixões que habitam os extremos das oposições içadas.
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É nesse contexto que se insere, a meu ver, a literatura de Marco Antonio Fabiani, tão bem tralhada em sua obra recém-lançada “O Lugar das Cinzas” (Editora Kan e Atrito Arte, 2022). No coração da colonização do Norte do Paraná, no distante sertão da primeira do século XX, a terra vermelha do norte velho é palco de dois personagens dicotômicos – o major Euclides e o médico Héracles –, dois pioneiros com visões opostas de mundo, partes antagônicas que se complementam no coração da selva, numa dialética sempre viva e desejosa de parir uma sociedade civilizada.
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Marco Antonio Fabiani consegue, com maestria, traduzir as dicotomias filosóficas em fina e saborosa literatura. Vele muito a leitura de “O lugar das Cinzas”.
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Clodomiro Bannwart