Na ponte do rio Caxias
01/02/2019 - Clodomiro José Bannwart Júnior

Na ponte do rio Caxias

A diversão da garotada, ao findar mais um dia de labuta nos cafezais, era subir o carreador que dava na estrada principal, descer até o rio e encontrar os colegas na ponte do rio Caxias. Ali era o ponto de encontro quase que diário dos jovens. Ficavam por horas jogando conversa fora e filosofando sobre a vida, pacata e de poucos acontecimentos. Vez ou outra passava um veículo e levantava uma poeira danada. Em dias de chuva, ao contrário, os veículos deslizavam na lama.

Certo dia, um caminhão transportando bebidas e que seguia em direção ao patrimônio vizinho, derrapou bem na cabeceira da ponte e atolou a roda traseira no brejo que margeava a estrada. Algumas pedras evitaram que o caminhão derrapasse por inteiro e fosse tragado pelas águas. O caminhão deslizou depois que a roda saiu o sulco da estrada e bandeou para o lado direito, onde havia o brejo. O acidente não feriu e nem colocou em risco a vida do motorista e seu ajudante. Os dois saíram pela porta esquerda e logo começaram a refletir como arrancar o caminhão dali.

A notícia correu rápida toda a vizinhança. Quando a informação chegou à casa do nono, Mauro logo partiu para cabeceira do sítio em direção à estrada e dali seguiu a passos largos até a ponte, certo de que os amigos já estavam todos lá. No caminho, encontrou uma turba de homens, mulheres e crianças ávidos de curiosidade para ver o ocorrido.

 Ao chegar à ponte do rio Caxias, Mauro viu o caminhão quase tombado no brejo. As rodas dianteiras estavam empinadas no ar e a carroceria afundada na lama. Todos opinavam sobre a forma mais adequada de arrancar o possante daquele lamaçal. Com recursos escassos, a saída mais razoável foi retirar toda a carga para aliviar o peso do bruto. O auxílio da turba ali presente foi bem-vinda e todos se dispuseram a ajudar. Foram deitando à margem do rio, entremeio às pedras do brejo, os engradados e os vasilhames de guaraná e de cerveja. Já estava escuro e a rapaziada se divertia com tudo aquilo. Muitos abriam guaranás e bebiam saborosamente, sob o comando do motorista.

O caminhão foi retirado no dia seguinte, quando o sol já havia secado parte da estrada. Os engradados foram novamente carregados. No entanto, foi notado a falta de muitos vasilhames que o motorista e seu ajudante acreditaram ter se perdido no rio. Muitos dos presentes confirmaram que a correnteza havia levado as bebidas rio abaixo, e que provavelmente os ribeirinhos do rio Ivaí estavam tomando guaraná que, misteriosamente, brotavam do rio.

Mauro ficou sabendo que alguns dos colegas, os mesmos que haviam ajudado a descarregar a carga do caminhão, tinham escondido de forma proposital muitas garrafas entre as pedras e o cipoal do rio. Por muitos dias, aos finais de tarde, a rapaziada se encontrava na ponte do rio Caxias para conversar e tomar guaraná geladinho retirado das pedras do rio. Mauro, mais de uma vez esteve lá com seus amigos para jogar conversa fora e beber guaraná, fruto de pueril aventura juvenil.

 

Clodomiro José Bannwart Júnior

(Artigo publicado na folha de Londrina, Folha Rural, 2019)