Março, mês internacional das Mulheres
Ludmila Kloczak
Clodomiro Bannwart
“São as águas de março fechando o verão. É a promessa de vida no teu coração”. Com as palavras de Tom Jobim, recordamos que março, além de encerrar o verão, é também o mês dedicado às mulheres, período para comemorar as conquistas que alcançaram, sobretudo em matéria de direitos, diante de uma realidade quase sempre desfavorável a elas. O momento é igualmente oportuno para refletir as alarmantes estatísticas de agressões e de violências que pesam contra as mulheres, nossas mães, avós, esposas e filhas.
Há pessoas que fazem do respeito uma relação harmoniosa para com os outros; há, no entanto, aquelas que sequer sabem o significado de uma convivência saudável. Alguns afirmam que nós, homens e mulheres, somos iguais. Não somos. Ainda bem! Seria um tédio! Somos diferentes! E essa diferença intriga-nos mutuamente. Obriga-nos a conviver com aquilo que há de estranho no outro. Somos, sim, um estranho ao outro. Uma possível aproximação advém da tentativa de homogeneizar o outro, reduzindo-o à nossa semelhança. Tarefa impossível de realizar. E tudo aquilo que perturba ou incomoda, quase sempre há o desejo de submeter ou eliminar. Para o homem é mais fácil usar da violência física para atingir este intento. Esse é um ponto desfavorável a mulher, muitas vezes, amedrontada na sua fragilidade física. A cada episódio de violência contra as mulheres, sempre primitivo e selvagem, deparamos com a renúncia de nossa dignidade humana.
Uma maneira de avaliar o grau de desenvolvimento civilizatório de uma nação ou de uma cultura é considerar o modo como as mulheres e as crianças são tratadas. Um retrato triste, porém, foi obtido no nosso quintal. Londrina ocupou recentemente o noticiário ao estampar o ranking de ser uma das cidades mais violentas do Estado no quesito agressão à mulher. Nos dois primeiros meses de 2020 foram registrados a abertura de mais de 450 inquéritos e de 120 pedidos de medidas protetivas na Delegacia da Mulher de nossa cidade. No mês internacional da mulher, infelizmente, temos pouco a comemorar.
Se a dimensão agressiva é um recurso que está em nós e é necessária para a nossa sobrevivência, não podemos desconsiderar que a consciência e o conhecimento deste poder, tanto do seu potencial destrutivo quanto das suas infinitas possibilidades construtivas, é um trabalho permanente e uma conquista diária. Ao modular a força que nos move para a conquista do nosso lugar no mundo, devemos criar condições para o surgimento de relações humanas que reafirmem a dignidade que deve reger a nossa convivência. A contenção de nossa agressividade deve permitir o convívio tolerante, pacífico e, sobretudo, de respeito ao outro.
Não podemos deixar de dar atenção ao universo feminino que nos cerca. Não devemos nos curvar diante da estupidez conscienciosa e despótica que agride as mulheres, psicológica e fisicamente. Esmagamos nossa humanidade todas as vezes que uma mulher é ferida, machucada, humilhada, maltratada e marginalizada. Sempre precisamos nos perguntar o que acontece com os homens que se desumanizam ao coisificar a mulher?
Mais do que palavras, precisamos firmar posições, com ações e atitudes, que alberguem as mulheres no espaço comum do respeito, do reconhecimento e, acima de tudo, daquele sentimento benfazejo que iguala a todos nós – homens e mulheres – na mesma frequência: o amor. O amor, esse aconchego percebido na alma, é o lócus em que a admiração pelo outro transmuta-se em afeto e eleva a todos nós em estatura, grandeza e dignidade.
É preciso buscar, todos os dias, a realização plena dos propósitos que marcam a celebração do mês internacional das mulheres. Que a promessa de ter vida no coração, expressa na canção de Tom Jobim, torne-se realidade na vida de todas as mulheres.
Ludmila Kloczak e Clodomiro Bannwart, Presidente e Vice-Presidente da Academia de Letras, Ciências e Artes de Londrina
(Artigo publicado na Folha de Londrina, março de 2020)