APRESENTAÇÃO
Não deixa de ser surpreendente que o autor, de forma generosa, tenha convidado seu ex-aluno para escrever esta apresentação. Creio que poucos intelectuais fariam isso. Não deixa de ser uma demonstração da grandeza do professor Gilvan Luiz Hansen que sempre soube dar oportunidades acadêmicas a pesquisadores e docentes, estimulando-os ao árduo trabalho da reflexão diante de uma realidade marcada por contingências, incertezas e contradições. No emaranhado dos acontecimentos e de narrativas que buscam compreender o espírito da época, o autor, portador da serenidades dos grandes mestres, sempre soube apontar direcionamentos, cujas lições transcendem o tempo.
Lembro-me que em 1999, no lançamento da 1ª edição de Modernidade, Utopia e Trabalho, Gilvan Luiz Hansen já pinçava o futuro, demonstrando, a partir de Jürgen Habermas, a vulnerabilidade do paradigma do trabalho no quadro da Modernidade. Na ocasião, ao reconstruir o itinerário da modernidade, demonstrava as profundas transformações no arquétipo da categoria de trabalho, apontando a necessidade de repensar novas formas laborais no futuro. A questão, no entanto, é que o futuro delineado na última década do século passado tornou-se presente, o que faz de Modernidade, Utopia e Trabalho leitura contemporânea e indispensável.
Diante do esgotamento das energias utópicas, da corrosão de formas de existências não monetizadas, da intensificação de agressões públicas sem precedentes, do aumento de despossuídos esmagados por uma economia cada vez mais refém da financeirização do Capital, do desdém em relação aos princípios democráticos e das mudanças ocorridas nas relações laborais em decorrência das novas tecnologias, a presente obra tem o mérito de chamar a atenção para importantes valores que o Ocidente construiu no solo da Modernidade, especialmente, o Iluminismo, a racionalidade, a democracia, a tolerância e o respeito aos direitos fundamentais.
Em que pese os dilemas e os desafios enfrentados atualmente, o autor não adota uma posição derrotista. Não faz do lamento sua preleção nem assume a atitude do cético órfão de utopias. É possível afirmar que Gilvan Luiz Hansen – parafraseando Habermas – não adota a postura do historiador helenista apenas preocupado em documentar para a posteridade as promessas não cumpridas de uma cultura francamente decadente. Muito pelo contrário! Ele estabelece parâmetros teóricos precisos e sabe manejar com maestria os conceitos que visam a doar inteligibilidade à realidade. Nas palavras do saudoso professor Leonardo Prota, Gilvan Luiz Hansen tem uma caraterística singular que o torna um pesquisador ímpar: possui profundidade de análise com perspectiva de síntese. É isso que o leitor encontrará na presente obra.
O presente livro é, seguramente, um alento teórico ao fornecer importantes referenciais para a leitura de uma realidade complexa na atual quadra da história. A densidade da reflexão e o cuidado teórico ao explorar temas que entrelaçam Modernidade, utopia e trabalho, demonstram que Gilvan Luiz Hansen soube qualificar, a contento, o sentido pleno da pesquisa acadêmica aliada ao didatismo que lhe é peculiar nos 35 anos de exercício no magistério superior.
Espero ter reunido nas poucas linhas que me couberam redigir nesta “apresentação”, o destaque merecido da obra, edificada com rigorosa pesquisa e sólida fundamentação teórica, e que certamente encontrará boa acolhida de estudantes, de pesquisadores e do público em geral interessado na temática.
Clodomiro José Bannwart Júnior
Londrina, verão de 2020.